Após trauma, morador de Indaiatuba tenta perder mais de 100 kg sem bariátrica e divide jornada nas redes
04/10/2025
(Foto: Reprodução) SUS registra alta de 106% em verbas públicas destinadas a pacientes com obesidade
Caminhar rápido, pegar algo no chão, tomar banho e até respirar podem se tornar tarefas quase impossíveis para quem vive com sobrepeso. Quando surgem as doenças associadas à obesidade, muitas pessoas buscam melhorar a qualidade de vida e alcançar o peso ideal por meio de um procedimento cirúrgico conhecido: a cirurgia bariátrica.
Wellington Rogério, conhecido como Tom, de 38 anos, decidiu seguir um caminho diferente. Pesando 222 quilos, o morador de Indaiatuba (SP) tenta chegar aos 100 quilos apenas com mudanças de hábitos e terapias menos invasivas, sem recorrer à cirurgia. A iniciativa ganhou destaque nas redes sociais.
"Alguns anos atrás, eu fui fazer uma cirurgia bariátrica e eu quase morri. Tive complicações, uma parada cardíaca, e fiquei na UTI. Eu fiquei traumatizado, e hoje eu quero emagrecer por conta própria, sem cirurgia", explica Tom.
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Tom começou a ganhar peso aos 25 anos, após desenvolver uma disfunção na tireoide. Desde então, o homem - que antes pesava cerca de 80 quilos - viu o peso aumentar até chegar aos 240 quilos.
Pesando 222 kg, morador de Indaiatuba tenta retornar a peso ideal com mudança de hábitos e sem cirurgia bariátrica
Jefferson Barbosa/EPTV
'Ganhar é fácil, perder que é difícil'
“Desde que entendi que é uma doença, eu comecei a tratar e tentar emagrecer”, diz Tom. Ganhar peso foi rápido, mas perder tem sido um desafio. A alimentação ficou mais restrita, ele precisou adotar hábitos mais saudáveis e ainda tenta conseguir uma vaga em aulas de hidroginástica.
Por estar desempregado, o uso de canetas emagrecedoras e outros tratamentos com medicamentos não disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) se torna inviável. Mesmo com as limitações, a força de vontade e o foco têm trazido resultados.
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Desde o início do “autotratamento”, Tom conseguiu eliminar alguns quilos, mas ainda está longe de alcançar sua meta principal: voltar ao peso que tinha aos 25 anos.
"O foco é a saúde. Pretendo voltar pelo menos aos 100 quilos ou 80 quilos, que era o peso que eu tinha exatamente", diz.
Dificuldades
Além dos riscos à saúde, o excesso de peso afeta a qualidade de vida e limita a realização de atividades simples do dia a dia. Tom relata que, devido ao linfedema que desenvolveu nas pernas, caminhar é difícil - e correr, quase impossível.
" A caminhada, por causa do linfedema que tenho nas duas pernas, atrapalha, por causa que pesa e o joelho acaba não suportando o peso. Então eu tenho que andar sempre devagar. E atrapalha até quando eu vou tropeçar e cair... Qualquer torcida que eu dê o meu joelho já não suporta", relata.
Tom conta que, para abaixar e pegar algo no chão, precisa se apoiar em algum ponto fixo. Até mesmo na hora do banho, a esposa o ajuda a esfregar as pernas. Além das limitações do dia a dia, Tom diz que encontra barreiras para continuar o tratamento em Indaiatuba.
“Em algumas partes, encontro bastante apoio, mas assim, como Indaiatuba não tem um projeto e a especialidade, eles nos mandam para a Hospital de Clínicas da Unicamp [para fazer a cirurgia bariátrica]”, diz.
"Como eu não estou buscando uma cirurgia bariátrica por causa do trauma que tenho, então estou fazendo por conta própria e com uma empresa privada que está me apoiando nesse momento, após o vídeo que a minha esposa postou e repercutiu na internet", conta Tom.
Aumento nos atendimentos
O Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado de São Paulo tem registrado alta no número de pacientes com obesidade. É o que apontam dados obtidos pela EPTV, afiliada da TV Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação.
📈 Os números da Secretaria de Estado da Saúde mostram crescimento nos procedimentos e internações, além de maior gasto de recursos públicos com o tratamento da doença. Confira os valores:
2021: R$ 4,2 milhões
2022: R$ 9,9 milhões
2023: R$ 13,3 milhões
2024: R$ 27,4 milhões (um aumento de 106% em relação ao ano anterior)
O advogado João Carlos Telini optou por alcançar o peso ideal por meio de uma cirurgia bariátrica. O procedimento foi realizado em 2004, quando ele pesava 150 quilos.
“Eu estava bastante deprimido. Estava impedido de exercer aquilo que eu mais gostava, que era o futebol, estar com a família, passear e se divertir, justamente devido ao excesso de peso”, relata.
O tratamento pode ser caro para o poder público, mas o impacto é ainda maior no bolso do paciente. “O Estado poderia começar a trabalhar para evitar a obesidade desde os primeiros anos de vida, para evitar que as pessoas ganhem peso”, opina.
Após 21 anos da cirurgia bariátrica, João Carlos vê cicatriz como troféu de sucesso.
Jefferson Barbosa/EPTV
O que diz a Prefeitura de Indaiatuba?
A Prefeitura informou, em nota, que a cidade mantém o projeto “Esporte é Saúde”, no qual pacientes atendidos na Unidade Básica de Saúde (UBS) com necessidades específicas são encaminhados a um educador físico, que avalia a modalidade mais adequada.
Segundo a administração, a própria UBS oferece grupos voltados à promoção de hábitos saudáveis, alimentação equilibrada, caminhadas e alongamentos, além de programas específicos para pessoas hipertensas e diabéticas.
A Prefeitura também mantém o “Programa 100% Saúde”, que realiza acompanhamento, orientações e palestras sobre obesidade e hábitos de vida saudáveis.
Atualmente, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e o Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC) dispõem de equipamentos adaptados para acessibilidade e acolhimento de pacientes com obesidade, como macas, cadeiras de rodas e poltronas com capacidade ampliada:
O HAOC dispõe de macas e camas hospitalares novas que suportam de 200 a 350 quilos;
A UPA 24 Horas dispõe de macas que suportam até 250 quilos.
Obesidade pode prejudicar qualidade de vida
Jefferson Barbosa/EPTV
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